Marla Grayson, Maria Madalena, Karol com K e Dilma com D
Termino o filme “I Care a Lot” ou no bom português “Eu me Importo” com todos os sentimentos e comento: que baita filme. Me recordo do texto indicado no curso de Escriterapia de Gabrielle Estevans, da Eliane Brum, onde ela descreve que “ a arte é labiríntica. Não há sentimentos certos ou errados, diante da expressão artística, há sentimento apenas.” E arte imitia a vida.
Marla Grayson é a protagonista do filme e em seus diálogos/monólogos [sugiro que se você não viu o filme não continue lendo este texto], de empreendedora pelo capital como fim, por não escolha, com seu negócio pautado em (i)licitudes um tanto permitidas pelo sistema e um tanto pautada em JUStificativas (Jus aqui grifo por Justiça) desperta sentimentos como de repulsa, de ódio, de indignação. A personagem é assassinada [nas aulas de medicina legal se aprende que todo e qualquer ferimento proferido dentro de um quadrado onde compõe cabeça e peito (desenha com os dois dedos indicadores) deverá ser levado em consideração com sendo sinal de tentativa de assassinato, que, no filme, a tentativa passou longe, considerando o terno branco ferido do lado esquerdo do peito]. Então temos a mulher, conduta, sentimentos e uma reação social. Razões para tal? Explico em seguida, dentro da lógica dos personagens acima identificados.
Maria Madalena para quem não conhece está na Bíblia e, dentro deste específico compêndio de textos/fábulas/parábolas, traz a questão de atirar a primeira pedra/a questão de julgar a si, antes do outro, onde o filho da Daquele ou Daquela que comanda esse Todo chamando mundo, nosso menino de amor nomeado Jesus, interrompe um linchamento, descrito com registros de excesso de raiva, de ódio e de repulsa de uma população sobre a conduta, comportamento, postura de uma mulher [naquela época se resolvia um bocado de coisas por meio de linchamento público, pois se compreendia que tornar pública a conduta julgada como sendo condenada implicava em aplicação da pena também de forma pública, para sugerir como sendo o exemplo a não ser seguido] pra perguntar: e ai pessoal, atira ai a primeira pedrinha quem nunca pecou. Então temos a mulher, conduta, sentimentos e uma reação social. Razões para tal, já te digo.
Karol com k no dia 23/02 recebeu 99% e lá vai alguns centésimos de percentuais dos votos dos brasileiros adeptos ao tão GrandeIrmãoBrasil. Mulher que por sua conduta, postura, comportamento causou sintomas de ódio, de repulsa, de indignação naqueles que viam, ouviam, assistiam. (Tel)espectadores ou não. Circulando nas atuais formas de comunicação, as mídias sociais, antevendo a saída tão indicada, falada, pautada [chamado de paredão, onde por um sistema de votos, o público escolhe quem vai sair do programa/sistema/jogo], pode-se identificar textos que interrompiam os discursos de ódio, de raiva e de repulsa com os questionamentos sobre quem vai receber com afeto a mulher que sai do dito programa e a cultura do cancelamento, do aniquilar, do descartar. Então temos a mulher, conduta, sentimentos e uma reação social. Razões para tal raiva? Já vai, tchê. Falta uma.
Dilma com D. Sim, quem diria ao Brasil de VinteVinteUm que um dia o povo elegeu uma presidenta. Mas os sentimentos despertados no povo (parte dele), significativos para o que se propõe com esse texto, ocorreram quando da sua saída, não do seu começo. Dentro da (i)legalidade de um procedimento judicial, a mulher é destituída de seu cargo e durante (antes, depois e em permanência) todo o trâmite deste [impeachment ou destituição pode ser encontrado em seu significado como processo político-criminal instaurado por denúncia no Congresso para apurar a responsabilidade por grave delito ou má conduta no exercício de suas funções, que tem como consequência a perda do cargo/função eleito e ainda a (in)abilitação temporária de se candidatar] há um discurso de ódio, de repulsa e de indignação da conduta, da postura, do comportamento desta mulher. Então temos a mulher, conduta, sentimentos e uma reação social. Razões para tal, bom agora sim.
Se você chegou até essa parte do texto, aviso aos leitores que o uso da palavra razões foi uma forma de conduzir até essa parte do texto pra dizer que Razão se trata de um substantivo feminino, cujo significado compreende faculdade de raciocinar, apreender, compreender, ponderar, raciocínio que conduz à indução ou dedução de algo.
Então dentro dessa condução de texto, trago-te a pergunta: e se fossem MarlO Grayson, MariO MadalenO, Karol com O e DilmO?
Clara Coria no livro o Sexo Oculto do Dinheiro traz a linha que costuro a trama de gênero aqui em narrativa: “ A identificação mulher= mãe encontra apoio e legitimidade na ideologia patriarcal, na qual a maternidade é um ideal feminino. Um ideal que não se dá só na dimensão reprodutiva (através da qual pretende-se reduzir a mulher de forma exclusiva e excludente), senão em todas aquela atitudes e atributos derivados da maternidade. (…) A este respeito é necessário assinalar que um paradigma — apesar da sua rigidez, é algo dinâmico, que, embora tenha a estreiteza do normativo, não é intrinsicamente imutável. Torna-se imutável pelo rigor com que os indivíduos o respeitam. E esse rigor está estritamente relacionado com as penalidade que sua transgressão ocasiona. Às vezes, estas penalidade são impostas pela sociedade que reprime e castiga de diversas maneiras os “desvios da norma”.”
Marla, Maria, Karol e Dilma em suas condutas, posturas e comportamentos não se encaixaram no ideal materno “modelo proposto à mulher pela sociedade patriarcal”, desviaram-se das normas e despertaram nos demais seres vivos sentimentos, sofrendo as reações/penalidades.
E se fossem MarlO Grayson, MariO MadalenO, Karol com O e DilmO?